Tucano enfrentava resistências
no PSDB e de partidos da terceira via. Decisão foi anunciada um dia antes de a
Executiva do PSDB se reunir para definir como se posicionará nas eleições.
João Doria durante pronunciamento nesta segunda-feira (23) — Foto: Reprodução/Redes sociais
O ex-governador de São Paulo
João Doria (PSDB) anunciou nesta segunda-feira (23) a desistência de sua
pré-candidatura à Presidência. Doria enfrentava resistências internas no PSDB e
de partidos da chamada terceira via e fez o anúncio em um pronunciamento na
Zona Sul de São Paulo.
"Para
as eleições deste ano, me retiro da disputa com o coração ferido, mas com a
alma leve", disse Doria.
A decisão do tucano foi anunciada um dia antes
de a Executiva do PSDB se reunir para definir como o partido se posicionará na
disputa presidencial de outubro.
Leia abaixo a íntegra do discurso
de Doria
Boa tarde a todos.
Esse é um pronunciamento
importante. Hoje é um dia de respostas, mas também um dia de perguntas. As
pessoas sempre me perguntam por que eu deixei uma vida de conforto à frente das
minhas empresas bem-sucedidas para entrar na política?
Sou filho de um político
cassado pelo golpe militar de 64. Meu pai, tal como eu, começou a vida pobre,
mas lutou, trabalhou e alcançou uma vida confortável, dono de uma das maiores
agências de publicidade do Brasil. Até o dia que decidiu lutar por um Brasil
melhor, inspirado por Franco Montoro.
Nele, era urgente a
necessidade de servir ao povo brasileiro, de combater a desigualdade e a
injustiça social. Doria, meu pai, foi eleito deputado federal e, em abril de
64, foi cassado pelo golpe militar. Perdeu seus direitos políticos, todos os
seus bens e foi obrigado a viver no exílio. Dois desses 10 anos de exílio, eu,
meu irmão, Raul, e minha mãe, Maria Silvia, estivemos ao lado do nosso pai.
Inspirado pelos seus ideais e
também motivado por Franco Montoro colaborei desde cedo com a vida pública. Com
Mário Covas, fui Secretário de Turismo de São Paulo. Por conta de uma gestão
bem sucedida, fui convidado a presidir a Embratur, emblematicamente criada por
um projeto de lei de autoria de meu pai na Câmara. Como militante e ativista,
organizei, a pedido de Franco Montoro, o histórico comício das Diretas Já em 25
janeiro de 1984, aqui em São Paulo.
Com dedicação e trabalho,
construí uma carreira sólida na iniciativa privada e coloquei de pé um grupo
empresarial de sucesso.
Em 2015, marcava o auge de uma
recessão brutal que dizimou empregos, levou a inflação às alturas e destruiu
sonhos. Nada muito diferente do que enfrentamos hoje. Inconformado, acompanhava
as medidas econômicas de um governo incompetente e o desvio de dinheiro público.
Em 2016, seguindo os passos de
meu pai, decidi disputar uma eleição. No PSDB, participei de três prévias: para
prefeito, para governador e para presidente da República. As três únicas
prévias na história do partido. Venci as prévias em 2016. E, logo depois, venci
as eleições para a prefeitura da maior cidade do país em primeiro turno. Fato
inédito na história política de São Paulo.
Guardo as melhores lembranças
da prefeitura e guardo as melhores lembranças do meu amigo Bruno Covas.
Tenho orgulho de ter zerado a
fila de exames nos postos de saúde, com o inédito Corujão da Saúde. Atendemos a
população em situação de rua com os Centros de Acolhimento, recuperamos praças,
avenidas e ruas. Promovemos a maior inclusão de crianças desassistidas no
redimensionamento das creches e escolas municipais. Lançamos os programas de
concessão do Parque do Ibirapuera, do Pacaembu e do Anhembi, entre outras
conquistas importantes para a cidade.
Em 2018, novamente disputei e
fui vitorioso nas prévias do PSDB para a eleição a governador do Estado de São
Paulo. Mais uma vez, vencias prévias e venci as eleições, sendo eleito
governador de São Paulo.
Tenho orgulho de ter feito uma
gestão transformadora no estado, reconhecida até mesmo por adversários. Diante
do desafio histórico da pandemia, me empenhei pessoalmente para trazer ao
Brasil 124 milhões de doses da vacina contra a Covid-19. Procurei fazer o certo.
Salvamos vidas e a economia.
Na pandemia, São Paulo cresceu
5 vezes mais do que o Brasil, gerando um terço de todos os novos empregos do
país. Por todo o território nacional, a vacina foi sinal de esperança, salvando
milhões de brasileiros. Vencemos com a ciência, os discursos do ódio, das fake
news e o negacionismo.
Assim como na saída da
prefeitura, quando deixei o comando da cidade nas mãos do saudoso Bruno Covas,
desta vez também deixei o governo de São Paulo em boas mãos. Rodrigo Garcia
está levando em frente um trabalho que começou com uma equipe de craques . E
que, certamente, lhe renderá a vitória nas eleições desse ano. Rodrigo será reeleito
governador de São Paulo.
Em dezembro do ano passado
disputei as prévias do partido para ser candidato a presidente da República e,
mais uma vez, as venci.
Fica aqui minha gratidão aos
brasileiros da cidade de São Paulo que me deram mais de 3 milhões de votos na
prefeitura. E aos quase 11 milhões de votos ao governo de São Paulo. E aos mais
de 17 mil militantes do PSDB que me escolheram como candidato a presidente do
Brasil.
Agradeço também aos mais de 6
milhões de brasileiros que, nas pesquisas de opinião pública, já se
manifestaram a intenção de votar no meu nome para presidente antes mesmo do
começo da campanha eleitoral.
O Brasil precisa de uma
alternativa para oferecer aos eleitores que não querem os extremos. Que não
querem aquele que foi envolvido em escândalos de corrupção e nem aquele que não
deu conta de salvar vidas. Não deu conta de salvar a economia e que envergonha
nosso país em todo mundo.
Para esta missão, coloquei meu
nome à disposição do partido. Hoje, nesse 23 de maio, serenamente entendo que
não sou a escolha da cúpula do PSDB. Aceito esta realidade com a cabeça
erguida. Sou um homem que respeita o consenso , o diálogo, o equilíbrio. Sempre
busquei e seguirei buscando o consenso mesmo que ele seja contrário à minha
vontade pessoal.
O PSDB saberá tomar a melhor
decisão do seu posicionamento para as eleições desse ano. Me retiro da disputa
com o coração ferido, mas com a alma leve. Com a sensação inequívoca do dever
cumprido, de missão bem realizada. Com boa gestão e sem corrupção.
Saio com o sentimento de
gratidão e a certeza de que tudo que fiz foi em benefício de um ideal coletivo
em favor dos paulistanos, do paulistas e dos brasileiros. Saio como entrei na
política: repleto de ideias, com a alma cheia de esperança e o coração
pulsante. Confiante na força do povo brasileiro que tem fé na vida e fé em
Deus.
Peço desculpas pelos erros. Se
me excedi foi por vontade de acertar. Se exagerei foi pela pressa em fazer com
perfeição. Se acelerei foi pela urgência que as ações públicas exigem. Os
acertos foram frutos do trabalho em equipe. Da ousadia e da coragem e do
propósito que sinto em perseguir. Sempre, sempre fazer bem feito o que tem que
ser feito. Respeito e trabalho. Fazer do possível o impossível. Esse é meu mantra
e levo por onde eu for.
Agradeço a minha equipe
aguerrida, aos membros do partido que sempre me defenderam, aos que lutaram ao
meu lado, que foram leais e defenderam a democracia interna do partido e
defendem como eu a liberdade e igualdade no Brasil.
Agradeço também aos colaboradores
que estiveram comigo na prefeitura e no governo do estado. Que se empenharam
pelos resultados históricos. Que juntos alcançamos. Agradeço também aos
militantes do PSDB, extraordinários guerreiros que nunca me abandonaram.
Agradeço a Deus pela disposição que sempre me deu. Pela capacidade de trabalho,
senso de justiça e paz no coração.
Agradeço igualmente à minha
família, à Bia e aos meus queridos filhos Johnny, Felipe e Carolina, e ao meu
querido irmão, Raul, que aqui está ao lado da Bia, minha esposa. Eu tenho uma
linda família, quero preservar essa família.
Agradeço também a todos os
verdadeiros amigos que sempre me apoiaram em todas, em todas as minhas
decisões. Por fim, relembro aqui o belo poema atribuído a Cora Coralina: 'Tem
mais chão os meus olhos do que o cansaço das minhas pernas. Mais esperança nos
meus passos do que tristeza nos meus ombros. Mais estrada no meu coração do que
medo na minha cabeça'.
Seguirei. Seguirei como
observador sereno do meu país. Sempre à disposição para lutar a guerra para a
qual eu for chamado. Na vida pública ou na vida privada. Que Deus proteja o
Brasil.
Muito obrigado. Até breve.
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