Reitora da UFRJ diz que universidade pode parar por não ter dinheiro sequer para recolher o lixo

 


Reitora da primeira universidade do Brasil, a médica e professora Denise Pires de Carvalho tem pensado em todas as formas para que as aulas na UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro) continuem no formato presencial. Com o bloqueio de verba anunciado pelo governo federal, ela e sua equipe têm revisto contratos e dados para minimizar os efeitos negativos. 

– A primeira questão é: não voltaremos ao ensino remoto para fazer economia, porque economizar agora vai custar muito caro para o país. Só vamos parar quando não tivermos mais limpeza e eu espero que isso não aconteça – diz. 

A entrevista está no UOL.

O bloqueio no orçamento de 14,5% foi comunicado na sexta-feira da semana passada, mas ontem (3) o MEC (Ministério da Educação) anunciou o desbloqueio de metade da verba — R$ 1,6 bilhão. Reitores ainda esperam a reversão total do dinheiro. 

Em entrevista ao UOL, a reitora comentou os impactos do corte no orçamento, analisou a atuação do governo de Jair Bolsonaro (PL) na área da educação, os desafios da universidade e o aumento da diversidade no ensino superior público. 

Leia alguns trechos:

UOL – Como a senhora analisa mais um bloqueio no orçamento, principalmente em um momento de total retomada das aulas presenciais? 

Denise Pires de Carvalho – É muito importante a gente ressaltar que o orçamento discricionário, que é aquele não envolve salário, é um orçamento para pagamento de contas de água, de funcionamento da universidade. Neste orçamento, temos tido cortes sucessivos desde 2015. Com o aumento do número de estudantes, queríamos estar discutindo ampliação de vagas, por exemplo, mas estamos com dificuldades orçamentárias. A UFRJ já tinha orçamento para funcionar até metade de outubro, ou seja, já íamos ficar descobertos por dois meses. Contratos de limpeza, segurança, fundamentais para o funcionamento, não seriam pagos. Partindo de um orçamento menor, que não garante o término do ano, o corte de 14,5% significa a possibilidade de pararmos por acúmulo de lixo. Não estou nem falando de acúmulo de mato, que também ficará desassistido. 

– No ano passado, a UFRJ foi uma das primeiras universidades a dar visibilidade para os problemas no orçamento da rede federal. Como a instituição pretende se posicionar neste ano? 

– Ficamos sabendo disso [bloqueio] na sexta-feira à tarde, então passamos o fim de semana inteiro estudando, porque sabíamos que seria dramática a situação. Que decisão tomar para não parar? Estamos estudando para não parar. Tenho reunião com o Museu Nacional para não parar as obras. Não é só o funcionamento da universidade que é afetado.

É um equivoco retirar dinheiro do sistema de educação, ciência, tecnologia e inovação, porque é um sistema que gera emprego e renda. É o tipo de economia mal feita, porque o governo dá num bolso e tira do outro. Não adianta uma pessoa receber Auxilio Brasil, se o seu filho vai ficar sem bolsa, sem escola. 

– Qual sua análise do atual governo na educação? 

– A minha avaliação é que há um equívoco profundo na escolha dos ministros e das equipes, porque não se pode tratar as instituições de Estado como se elas fossem instituições de governo. Quando um ministro é escolhido por um grupo político e não pela sua capacidade técnica temos, por exemplo, o Plano Nacional de Educação completamente abandonado. 

Esse foi um planejamento feito em 2014, havia um governo naquele momento, mas um planejamento que ultrapassa governos. Não há uma meta nesse plano que eu tenha visto ser seguida. Isso é muito grave e demonstra que esse é um governo que não pretende dar continuidade a projetos de Estado. 

Fonte: Agenda do Poder

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