ARTIGO: Romário foi humilhado, discriminado e ofendido por bolsonaristas

 


 

O que aconteceu no domingo, dia 24 de julho de 2002, com o senador Romário na convenção nacional do Partido Liberal – PL -,   partido do Presidente da República Jair Bolsonaro e do governador do estado do Rio de Janeiro, Cláudio Castro, foi um ato de discriminação, foi um ato de humilhação, foi um ato de desprezo por um dos principais nomes da sociedade brasileira, um dos principais nomes do futebol e um dos principais nomes no parlamento brasileiro por 12 anos consecutivos.

Tem que ser repudiado com veemência por todos.

 Romário tem que ser acolhido por todos, mesmo por aqueles que estão disputando com ele como André Ceciliano, Clarissa Garotinho, Alessandro Molon, Ivanir dos Santos, Otoni de Paula e demais candidatos, declarando solidariedade pessoal e humanitária a seu colega de disputa ao senado federal pelo RJ.

Todos os pré candidatos a governador devem fazer declarações de apoio e solidariedade pessoal ao senador Romário,  incentivar, apelar para que todos os pré-candidatos  a presidente da república façam o mesmo, com exceção de Jair Bolsonaro, que participou do evento de humilhação ao senador Romário.

Luiz Inácio Lula da Silva, Ciro Gomes, Simone Tebet, demais candidatos: façam declarações públicas de repúdio ao gesto tenebroso, ao gesto inaceitável de impor humilhação a um homem como Romário, que já deu tantas contribuições à cidadania e tantas alegrias ao povo brasileiro.

 Contribuições concretas, como parlamentar/ legislador e contribuições afetivas e festivas como jogador de futebol nos vários clubes por que passou, assim como na seleção brasileira.

Romário, “estamos contigo”, não significa que vamos votar em você, significa que repudiamos qualquer ato de intolerância e qualquer ato de discriminação contra um ser humano como você.

O senador Romário é um frágil favorito a vencer uma eleição em que 90% dos eleitores não tem nem pensou em uma candidatura. Favorito provisório para a única vaga ao senado em 2 de outubro de 2022.

O retrato de ser o mais indicado nesse momento, o favorito provisório nas recentes pesquisas induzidas, como a pesquisa da Quaest/Genial e do IPEC/O Globo.

Pesquisas em que na pergunta espontânea,  Romário é citado por 3%  e em segundo vem Alessandro Molon com 1%.

Na pesquisa da Quaest/Genial e na do IPEC, os demais candidatos são citados em conjunto por 1%, ou seja,  praticamente não são citados.

O que significa dizer que 90% dos entrevistados, o que em tese representaria 90% dos eleitores aptos, não tem ainda um candidato ao senado no RJ. Isso quer dizer que os que citaram Romário o escolheram na pesquisa induzida pela visibilidade pública de mais de 30 anos que Romário possui. É razoável imaginar que é reconhecido como um homem público, bem visto por mais de 10 anos como parlamentar.

Numa pesquisa induzida, portanto,  escolhem  Romário por sua grande visibilidade como celebridade e parlamentar. Os eleitores de Alessandro Molon, Clarissa Garotinho Daniel Silveira, André Ceciliano, Otoni de Paula e Ivanir dos Santos, ao serem citados na planilha induzida, não possuem certeza ou decisão tomada, assim como os eleitores de Romário. Não significa que  permanecerão com essa escolha no dia da eleição. A maioria dos eleitores não tomou um decisão sobre seu voto ao senado no RJ.

Podem e vão mudar a decisão de voto, o que reforça a tese de que a eleição para o senado está em aberto. O mesmo cenário fotográfico está presente na pesquisa do IPEC. 

Romário vem em primeiro lugar com 30% e Alessandro Molon com 9%, Clarissa Garotinho com 6%. Matematicamente, com os retratos da Quaest/Genial e IPEC/O Globo entre o dia 10 e o dia 25 de julho, podemos dizer que Romário está em melhor situação que as demais candidaturas pelas planilhas induzidas, mas não que Romário seja o efetivo favorito.

Romário tem sua pré campanha e terá sua campanha o tempo todo cortada, atrapalhada, torpedeada, boicotada por quem deveria estar ao seu lado, o presidente Jair Bolsonaro e o governador Cláudio Castro.

Por quem deveria ajustar e catapultar a postulação eleitoral de Romário para os píncaros, para cima e para a frente.

Pelos que deveriam ser os primeiros solidários, por fidelidade partidária no Partido Liberal-PL, o mesmo partido do presidente Jair bolsonaro, do governador Cláudio Castro.

Jair Bolsonaro tem dois candidatos ao Senado, o candidato afetivo, do coração,  que é Daniel Silveira, e a candidata pragmática, estóica, interlocutora eficaz de Jair Bolsonaro no RJ nos últimos meses de 2021 e ao longo de 2022, que é a deputada federal Clarissa  Garotinho, do Partido União Brasil, que não é coligado com o PL e com Jair  Bolsonaro.

Jair Bolsonaro descarta qualquer ação de apoio a Romário. Os esforços de Jair Bolsonaro serão para Clarissa Garotinho, materializando a polarização Lula da Silva x Jair Bolsonaro com André Ceciliano e  Clarissa.

De maneira mais reservada, mais discreta, com Carlos e Flávio Bolsonaro.

Daniel Silveira é uma escolha raiz, afetiva, mais fechada, de micro grupo.

 Apostando no deputado Daniel Silveira para radicalizar temas, questões e ataques.

Daniel Silveira também está muito bem citado nas duas pesquisas mencionadas nesse artigo.

 Nesse artigo, exponho minha avaliação, percepção e expectativa de que o senador Romário terá a sua campanha esvaziada pela direção do PL do Estado do Rio de Janeiro, que vai lhe criar entraves e problemas com os recursos do Fundo Eleitoral e do Fundo Partidário, vai escondê-lo nos programas de televisão, rádios e inserções midiáticas. Romário não terá o apoio de Jair Bolsonaro, de Flávio Bolsonaro, nem do governador Cláudio Castro.

Romário está, nesse momento e até o dia 2 de outubro, em absoluto isolamento político eleitoral, está numa prisão partidária, na medida em que se filiou ao Partido Liberal antes do dia 2 de abril de 22 e não tem como se movimentar, mudar de partido, ir para o PDT – Partido Democrático  Trabalhista, que convidou Romário para a sua legenda como deputado federal.

 Romário acreditou nos acordos e acenos do governador Cláudio Castro e permaneceu no PL.

Se Romário estivesse no PDT, teria mais oportunidades competitivas de ser senador do que no PL.

A situação de Romário, hoje, nos últimos dias do mês de junho, junto com o  episódio lamentável do dia 24/07 na convenção do partido Liberal que consagrou o nome do presidente Jair Bolsonaro como   candidato à reeleição, é constrangedora.

Romário foi vaiado, foi xingado, foi humilhado, praticamente foi expulso da convenção nacional do PL.

 Uma  convenção nitidamente raiz de bolsonaristas, que aclamou Daniel Silveira como seu candidato ao senado. Clarissa Garotinho, habilmente, não compareceu a convenção. Clarissa Garotinho não é do Partido Liberal-PL, é pré-candidata oficial ao senado pelo Partido União Brasil, que não possui uma  aliança formal com Jair Bolsonaro. A sintonia de Clarissa Garotinho com Jair Bolsonaro vai acontecer no dia-a-dia da política, da campanha em cada município e local em todo o território do estado do RJ.

A sintonia de Clarissa Garotinho com Jair Bolsonaro vai se dar na prática política e não em  convenções,  na convenção do União Brasil ou do PL.

O PL repudiou Romário e consagrou Daniel Silveira como candidato ao Senado na chapa de Jair Bolsonaro no RJ.

Como a campanha para o Senado está em aberto e o eleitor está basicamente sem candidato, Romário pode insistir na sua candidatura ao Senado, mas eu insisto: a campanha de Romário ganhará dificuldades muito grandes com Cláudio Castro, que é muito simpático à campanha de André Ceciliano ao senado, e Jair Bolsonaro, que é muito simpático à candidatura de Daniel Silveira. 

E, junto, Bolsonaro vai jogar no afeto e na raiz com Daniel Silveira e na macropolítica com Clarice Garotinho. Cláudio Castro vai jogar no pragmatismo com a chapa Castro-Lula. 

Ao mesmo tempo que Lula tem em André Ceciliano o seu candidato único. Lula não vai dividir palanque com Alessandro Molon ou com os demais candidatos do PSTU, do PCB ou do PCO. 

Lula já tem um candidato ao Senado do Rio de Janeiro, que se chama André Ceciliano, que na sua vasta rede de relações tem Lula como candidato exclusivo a presidência da República e rejeita Bolsonaro como candidato, ao mesmo tempo em que tem pontes com Cláudio Castro, e tem como candidato a governador Marcelo Freixo, assim como tem pontes com o candidato do PDT e do PSD, Rodrigo Neves. 

Portanto, a prática política de Ceciliano é muito ampla. Eu, em artigo publicado nesse site, disse que o retrato da polarização Lula – Jair Bolsonaro no Rio de Janeiro é refletido no retrato da polarização Clarissa Garotinho – André Ceciliano.

Se eu tivesse a oportunidade de conversar diretamente com Romário, ou com os estrategistas da campanha ao Senado do Senador Romário, com aqueles que ele escuta, eu insistiria para que Romário não perdesse a oportunidade de continuar no Congresso Nacional. Romário tem até o dia 14 de agosto para deslocar-se de candidato ao senado para candidato a deputado federal. Romário candidato a deputado federal pelo PL será muito bem-vindo por toda nominata de candidatos a deputado federal do partido. Vai ajudar muito o partido liberal a formar uma grande bancada no estado do Rio de Janeiro. Claudio Castro não criará problemas a uma campanha de deputado federal de Romário. E Jair Bolsonaro simplesmente vai desconhecê-lo e não criaria obstáculos para a sua campanha. 

Romário é um homem importante e que tem sobrevida política de mais 20 a 25 anos no estado do Rio de Janeiro. Essa sobrevida só existirá se ele estiver em 2023 na Câmara dos Deputados. No Senado Federal eu não vejo chance nem oportunidade. Mas na Câmara dos Deputados vejo. Portanto, se Romário quiser ter uma vida longa e vitoriosa no parlamento, e caminhar para mais quatro anos de mandato, que declare-se imediatamente candidato a deputado federal. Isso será bem-vindo para Romário e para todos aqueles por quem Romário trabalhou tanto nesses 12 anos em que foi deputado federal e Senador. Romário é um excelente parlamentar, apesar de não receber esse mérito e não ter essa visibilidade por todas as mídias, apesar de ser refutado e rejeitado pelos partidos de esquerda tradicional, apesar de ser refutado e rejeitado pelos partidos de centro da mesma maneira que pelos partidos de direita. 

Curiosamente, os dois partidos que gostam de Romário são de centro – esquerda: o Partido Democrático Trabalhista e o Partido Socialista Brasileiro. Sinto que Romário não tenha antes do dia 02 de abril aceitado o convite da direção nacional e sido candidato pela legenda do PDT do estado do Rio de Janeiro. 

Romário, você é bom de bola, você tem oportunismo de quem sabe fazer o gol, você tem tudo que fez o Brasil ser campeão mundial de futebol em 1994. Por isso, Romário, eu digo: repita esse feito rumo à vitória sendo candidato a deputado federal.

Fonte: Agenda do poder
Paulo Baía - *Sociólogo, cientista político, técnico em estatística e professor da UFRJ.

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