Pela primeira vez em 28 anos, os deputados da Assembleia Legislativa do Rio estão divididos na escolha dos nomes que vão comandar a Casa. Um racha nas duas maiores bancadas governistas , as do PL e do União Brasil, acirrou os ânimos no parlamento fluminense e torna o resulta imprevisível. Dois nomes do partido do governador Cláudio Castro se digladiam para chegar à Presidência : o secretário de governo, Rodrigo Bacellar, e o secretário de Agricultura, Jair Bittencourt.
Mesmo em lados opostos, ambos prometem não fazer oposição a Cláudio Castro. Com a direita e o centro divididos, a eleição nesta quinta-feira, 02, os partidos de esquerda passam a ter peso decisivo na definição do comando da Casa.
Dos 70 deputados eleitos, que tomam posse hoje, 45 pertencem aos 14 partidos que compuseram a coligação de Castro. Já a esquerda — PT, PSOL, PDT, PSB e PCdoB — tem 17 nomes. Nos últimos dias, a temperatura da disputa pela presidência da Casa subiu, com uma reunião atrás da outra e muitos telefonemas e mensagens em busca de apoio. Parlamentares ouvidos pelo GLOBO não quiseram revelar os votos e dizem que o placar será fechado no último minuto.
Até o governador Cláudio Castro (PL), que hoje deve ir à posse dos deputados no Palácio Tiradentes, entrou em campo. Ele se reuniu nos últimos dias com 42 parlamentares que teriam se comprometido a votar em Bacellar, atual secretário estadual de Governo, segundo fontes do Palácio Guanabara. A oposição, por sua vez, faz outras contas e diz que nada está garantido.
A candidatura de última hora de Bittencourt, atual secretário estadual de Agricultura, Pecuária, Pesca e Abastecimento, é mais aceita entre as legendas de centro-esquerda. Apesar de ser do PL, ele teria um perfil próximo ao do atual presidente, André Ceciliano (PT), e transitaria com mais facilidade pelos diferentes grupos. Aliados de Bittencourt têm tentado atrair esses votos negociando as comissões que são historicamente ocupadas pela esquerda. Nos bastidores, cogita-se até a possibilidade de o candidato pedir licença do PL para reduzir resistência da oposição.
Enquanto isso, apoiadores de Bacellar apostam que as legendas da esquerda vão preferir se abster a votar em um candidato do PL, partido do ex-presidente Jair Bolsonaro. Até semana passada, era quase pacificado que Bacellar seria o único a apresentar uma chapa.
Se Bacellar e Bittencourt mantiverem suas candidaturas até amanhã, quando os 70 deputados vão escolher o novo presidente, este será o primeiro confronto em 28 anos. O último foi em 1995, quando o então deputado Sérgio Cabral venceu Aluízio de Castro. Desde então, nada de disputas. Para vencer, é necessário obter a maioria simples, de 36 deputados.
Nas últimas horas, os dois lados jogaram com o que tinham. Bacellar se reuniu com deputados durante todo o dia de ontem no Palácio Guanabara, onde ajustes e acordos teriam sido selados. No caso de sua vitória, devem compor a Mesa Diretora Pedro Brazão (União) na primeira vice-presidência e Tia Ju (Republicanos) na segunda vice-presidência. Doutor Deodalto (PL), Valdecy da Saúde (PL), Pedro Ricardo (PP), Val Ceasa (Patriota) e Giovani Ratinho (Solidariedade) também devem estar na chapa. Já nas comissões, Rodrigo Amorim (PTB)seria indicado para a de Constituição e Justiça (CCJ) e André Corrêa (PP), para a de Orçamento.
— Os espaços do PL não foram
respeitados. Bacellar conduziu o processo de forma a privilegiar deputados mais
ligados a ele. Não existe nada pessoal contra o Bacellar ou contra o Rodrigo
Amorim, mas é um escândalo político que o partido com 25% das cadeiras da
assembleia (o PL) não seja indicado à CCJ e, em seu lugar, entre um deputado
que é o único de seu partido. O governador tem autoridade para fazer o que
achar melhor. Ninguém do PL está contra o governo — afirmou Altineu Cortês,
presidente estadual do PL.
Ao todo, a Alerj tem 37 comissões
permanentes. A mais importante é a CCJ, por qual todos os projetos de lei
precisam passar. A de Orçamento é outra muito cobiçada, pois emite parecer
sobre as contas do governo todos os anos. O número de comissões que cada
legenda ou frente parlamentar terá é calculado pelo quociente partidário, que
considera a quantidade de deputados por partido ou bloco. Porém, cabe ao
presidente escolher como será a distribuição pelos postos.
Para fazer a indicação de Amorim,
partidos nanicos nessa legislatura se juntaram e criaram um bloco parlamentar.
Juntos, constituíram uma bancada de 13 deputados que estão apoiando a eleição
de Bacellar. Com a estratégia, as legendas passaram a ser a segunda maior
bancada da Alerj, garantindo praticamente uma cadeira em cada comissão.
Já Bittencourt tenta atrair a
esquerda, por exemplo, com as comissões de Direitos Humanos e de Educação. No
entanto, um integrante da bancada do PSOL admite um certo desconforto no
partido que, tradicionalmente, opta pela neutralidade na disputa pela
presidência, já que sempre havia um único nome. Na chapa de Bittencourt, a 1ª
vice-presidência da Mesa Diretora deve ficar com o PL e a 1ª secretaria, com um
indicado pelo PT. Já nas comissões, a CCJ seria ocupada pelo PL, e Márcio
Canella (União) pode ser indicado para a de Orçamento.
No PSD do prefeito Eduardo Paes,
o cálculo é que cinco dos seis deputados do partido fiquem com Bittencourt.
Para isso, os secretários Gustavo Schleder (Esportes e Lazer) e Eduardo
Cavaliere (Casa Civil) — que se elegeram deputado — se afastaram ontem da
prefeitura para tomar posse na Alerj e voltar ao Executivo após a votação de
amanhã. O único indeciso ontem era Munir Neto.
(Edição da Agenda do Poder com
informações de O GLOBO)
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