A Eleição Municipal no Estado do Rio de Janeiro: desafios e esperanças em um cenário de conflito e cautela

 

As campanhas eleitorais devem ser, acima de tudo, um exercício democrático, onde o debate de ideias prevaleça sobre a confrontação física e as ameaças


   * Paulo Baía


As eleições municipais no Estado do Rio de Janeiro sempre foram marcadas por intensa movimentação política, especialmente nos 92 municípios que compõem o estado. O contexto eleitoral de 2024 não foge à regra, e as campanhas que se desenrolam no estado estão mostrando uma combinação de dinamismo e tensão. Em várias regiões, a disputa política toma contornos mais acalorados, com embates entre grupos locais que muitas vezes refletem rivalidades históricas e interesses profundamente enraizados.

A natureza vibrante das campanhas no Rio de Janeiro pode ser atribuída à pluralidade de forças políticas em ação. O estado, que engloba tanto grandes centros urbanos quanto municípios menores, tem uma diversidade social, econômica e cultural que se reflete no campo político. Nessas localidades, o impacto direto das eleições no cotidiano da população é sentido de forma imediata, o que eleva a importância das disputas e a participação ativa de diferentes segmentos da sociedade. Assim, a competição para cargos de prefeitos e vereadores adquire uma relevância local enorme, com implicações que ultrapassam as fronteiras de cada município.

No entanto, esse ambiente de disputa também carrega consigo um potencial de tensão, que em alguns casos chega a beirar a pré-violência. Até o momento, o cenário eleitoral no Rio de Janeiro já registrou incidentes que, apesar de raros, despertam preocupação. A escalada verbal entre apoiadores de diferentes grupos políticos já é comum em algumas localidades, e, infelizmente, em raríssimas ocasiões, essa hostilidade verbal se transforma em violência física. Dois homicídios já foram registrados no contexto das campanhas eleitorais, um fato que, apesar de trágico, ainda é considerado uma exceção no histórico das eleições municipais do estado.

Essa constatação, porém, não diminui a gravidade desses eventos. É fundamental que as autoridades competentes mantenham uma vigilância constante para evitar que novos episódios de violência venham a ocorrer. As campanhas eleitorais devem ser, acima de tudo, um exercício democrático, onde o debate de ideias prevaleça sobre a confrontação física e as ameaças. Nesse sentido, o papel desempenhado pelo Tribunal Regional Eleitoral do Rio de Janeiro (TRE-RJ) e pelas forças de segurança, tanto federais quanto estaduais, é crucial.

O TRE-RJ tem demonstrado grande protagonismo no controle e monitoramento do processo eleitoral. A atuação do tribunal, muitas vezes invisível ao grande público, é vital para garantir que as regras sejam seguidas e que os abusos de poder político e econômico sejam coibidos. Além disso, as forças de segurança estaduais têm assumido um papel central na prevenção de conflitos e na proteção das zonas eleitorais mais sensíveis. Embora as forças federais também estejam envolvidas, são as estaduais que têm mostrado maior presença e ação no terreno, conhecendo melhor as particularidades locais e sendo capazes de reagir de forma mais ágil às demandas de segurança.

A redução da violência nas eleições de 2024 é um dado relevante, especialmente em um estado onde a violência urbana é um problema constante. O Rio de Janeiro apresenta índices elevados de criminalidade, o que torna ainda mais notável o fato de que, até agora, a violência eleitoral se mantém relativamente contida. Esse cenário é, sem dúvida, um motivo de esperança para a população fluminense, que já está habituada a conviver com a insegurança no dia a dia. Em um ambiente político tão polarizado e, por vezes, agressivo, como o que se observa em muitos municípios do estado, a contenção da violência eleitoral é uma boa notícia.

Entretanto, é preciso cautela ao celebrar essa relativa tranquilidade. O período eleitoral ainda está em curso, e as tensões costumam se intensificar à medida que o dia da votação se aproxima. Em 6 de outubro, os eleitores irão às urnas para decidir o futuro de seus municípios, e os candidatos, muitos deles profundamente enraizados nas comunidades locais, aumentarão seus esforços para garantir o apoio do eleitorado. Esse momento decisivo pode ser um gatilho para o aumento das pressões e dos confrontos, tornando ainda mais necessária a presença das autoridades para garantir a segurança do processo.

O Rio de Janeiro, ao longo de sua história, já vivenciou eleições turbulentas, e a lembrança de episódios de violência em pleitos passados ainda está fresca na memória de muitos eleitores. No entanto, há razões para acreditar que o cenário atual pode ser diferente. A sociedade fluminense, apesar de suas divisões e desafios, tem mostrado uma maturidade política crescente, e as instituições democráticas têm se fortalecido ao longo dos anos. A resposta rápida e eficaz das autoridades, associada ao envolvimento de entidades civis e movimentos sociais, tem sido fundamental para criar um ambiente onde o respeito às regras e à integridade do processo eleitoral são prioridades.

Diante desse panorama, o que resta é aguardar o desenrolar dos próximos dias com cautela e otimismo. A esperança é de que a calma relativa que tem marcado até agora as eleições de 2024 no Rio de Janeiro se mantenha até o fim do processo. Se isso acontecer, será um importante marco para o estado, que tanto luta para superar seus problemas de segurança pública e para garantir que a democracia floresça em meio a desafios tão complexos.

Em última análise, as eleições municipais de 2024 no Rio de Janeiro não são apenas uma disputa por cargos políticos. Elas são também uma prova de que o estado pode avançar em sua convivência democrática, mesmo em um ambiente marcado por conflitos e desigualdades. A violência, que tantas vezes tem sido a marca de outros momentos da história política fluminense, parece estar cedendo lugar a um clima de maior controle e responsabilidade, sinalizando uma mudança positiva para o futuro da política no estado.


          * Sociólogo, cientista político e professor da UFRJ.


Fonte: agendadopóder.com.br


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