Apoio de Cláudio Castro a Bacellar cria arestas na base aliada

 


O governador do Rio, Cláudio Castro (PL), embarcou de vez na pré-candidatura do presidente da Assembleia Legislativa (Alerj), Rodrigo Bacellar (União), como seu sucessor, o que já cria arestas na base aliada. Castro atua para isolar o vice-governador Thiago Pampolha (MDB), que busca se cacifar para a disputa junto a lideranças nacionais do seu partido, um dos maiores na aliança do atual governo. A opção por Bacellar escanteia ainda outro emedebista, o ex-prefeito de Duque de Caxias e atual secretário estadual de Transportes, Washington Reis, que também se articula para concorrer.


Na semana passada, Castro chamou Bacellar de seu candidato “predileto”, em entrevista ao Valor, e rechaçou a hipótese de Pampolha herdar a cadeira de governador a partir de abril de 2026 —data em que o atual chefe do Executivo precisaria deixar o cargo caso queira concorrer ao Senado, seu desejo, ou a qualquer outro posto.


Hoje inelegível devido a uma condenação por crime ambiental, Reis ainda tem um recurso pendente no Supremo Tribunal Federal (STF) — na última semana, o ministro Gilmar Mendes pediu vista e adiou a conclusão do caso — e diz ser “candidatíssimo” ao governo estadual caso consiga resolver a pendência jurídica.


Interlocutores da cúpula do MDB afirmam que o partido vê com bons olhos uma candidatura própria ao governo do Rio. Pampolha vem construindo apoio à empreitada com dirigentes como o deputado federal Baleia Rossi (SP), presidente do partido, e o governador do Pará, Helder Barbalho. Ambos também possuem boa relação com Reis, que tem força na máquina partidária, além de afinidade com o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), considerado cabo eleitoral relevante na eleição do Rio.


Movimentação partidária


O ex-prefeito de Duque de Caxias ostenta melhor trânsito com outros partidos da base de Castro, como o Republicanos, que já alinhou a filiação de quatro deputados federais eleitos pelo União Brasil. O quarteto diverge da gestão do partido sob o comando de Bacellar e do atual presidente nacional da sigla, Antonio Rueda, e obteve autorização do ministro Nunes Marques, do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), para trocar de partido sem perder o mandato. Além de um possível apoio a Reis, o Republicanos avalia ter candidatura própria ao governo.


Ao GLOBO, Reis defendeu ser um nome mais viável ao governo, caso consiga se tornar elegível de novo, mas frisou que seu grupo político apoiará uma candidatura de Castro ao Senado independentemente de quem o governador apoiar como sucessor.


— Castro gosta e confia muito em Bacellar, por isso é natural que seja seu sonho de consumo para a sucessão. Respeito esta prerrogativa dele. Mas do outro lado teremos uma candidatura do Eduardo Paes (PSD), muito competitivo, e o mais capacitado para derrotá-lo sou eu. Tenho muitas entregas como prefeito e secretário — diz Reis.


Interlocutores de Castro e da cúpula emedebista avaliam que o atual vice não conseguirá ser “candidato de si mesmo” e que, mesmo que assuma a cadeira de governador durante a eleição, precisará de alianças para se tornar um nome viável. O entorno de Castro e de Bacellar vem pressionando Pampolha a aceitar uma vaga de conselheiro no Tribunal de Contas do Estado (TCE-RJ) — a próxima abre em maio. Isto tiraria o vice da linha sucessória e abriria caminho para o presidente da Alerj concorrer em 2026 já sentado na cadeira, caminho que ele sempre defendeu.


Há divergências, porém, sobre qual será a postura do governador caso seu vice insista em concorrer à sucessão, o que hoje é a hipótese mais provável. O entorno do presidente da Alerj avalia que Castro poderia desistir de concorrer ao Senado, como declarou ao Valor, para evitar que um adversário de Bacellar comande o governo durante a eleição. Em troca, Castro integraria o primeiro escalão de um eventual governo Bacellar. Interlocutores do governador, por outro lado, avaliam que Castro não ficará de fora das eleições.


Além de ter o apoio do governador, Bacellar hoje é favorecido por uma aproximação com o bolsonarismo e pela possibilidade de uma federação entre União Brasil e PP. O presidente da Alerj visitou Bolsonaro em Angra dos Reis (RJ) durante o carnaval, a segunda vez somente neste ano. No balneário, Bolsonaro também recebeu Rueda e o presidente do PP, Ciro Nogueira.


A costura entre os partidos, segundo Nogueira declarou em entrevista ao GLOBO, tende a encorpar uma candidatura de “centro-direita” à Presidência em 2026. O movimento também agrada a Bacellar, que vislumbra a chance de amarrar o PP de vez à sua candidatura — junto com PL e União, o trio de partidos elegeu 51 prefeitos no ano passado, comandando pouco mais da metade dos municípios fluminenses.


Fonte: O Globo

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