De sabão em pó a azeite e café, apreensões de produtos falsificados somam 112 mil itens no Rio

 


Crimes de pirataria se sofisticam e atingem supermercados e restaurantes; autoridades alertam para riscos à saúde e ao financiamento do crime organizado


Em camelódromos espalhados pelo Rio de Janeiro, a venda de roupas de grife e celulares de última geração a preços irrisórios já sinaliza a presença de produtos falsificados. No entanto, como revelou reportagem do O Globo, essa indústria criminosa foi além das ruas e chegou às prateleiras de supermercados e restaurantes, afetando itens essenciais como sabão em pó, azeite e café. A atuação sofisticada das quadrilhas tem enganado consumidores e gerado preocupação crescente entre autoridades.


Segundo a Secretaria Estadual de Defesa do Consumidor, somente no ano passado, mais de 90 toneladas de produtos de limpeza piratas foram apreendidas no estado. Alimentos e bebidas também se tornaram alvos recorrentes. Nos primeiros quatro meses de 2025, mais de 112 mil itens falsificados foram retirados de circulação pela Delegacia de Repressão aos Crimes Contra a Propriedade Imaterial (DRCPIM), uma média de 930 produtos apreendidos por dia.


Mercado paralelo atento à demanda


A escalada dos preços de produtos básicos impulsionou o avanço da pirataria. O sabão em pó, por exemplo, figura entre os principais itens falsificados. A Unilever, dona da marca mais visada, passou a adotar medidas para dificultar a ação dos criminosos, como o uso de tintas especiais importadas da Alemanha e selos holográficos visíveis sob luz negra. A empresa também alerta consumidores para diferenças nos lacres das embalagens: falsificações usam cola quente, enquanto os produtos originais têm picotes característicos.


O mercado do café enfrenta problema semelhante. Até o selo da Associação Brasileira da Indústria de Café (Abic) tem sido reproduzido ilegalmente. Christiane Monteiro, coordenadora de projetos da entidade, destaca que, embora os selos falsificados apresentem pequenas diferenças de tamanho, muitas vezes só especialistas conseguem perceber. Para ajudar os consumidores, a Abic disponibiliza o aplicativo ABICafé, que permite a checagem da autenticidade por QR code ou código de barras.

— “A falsificação está mais elaborada, com embalagens muito semelhantes às originais”, alerta Monteiro.


Riscos no azeite e nas bebidas


Outro setor fortemente atingido é o de azeites. Em operações recentes, a polícia encontrou fábricas clandestinas que retiravam rótulos de azeites proibidos pelo Ministério da Agricultura para substituí-los por marcas inexistentes, revendendo o produto adulterado a supermercados.


As bebidas alcoólicas também estão no centro da fraude. Somente nos primeiros meses de 2025, a Polícia Civil apreendeu mais de quatro mil unidades de bebidas falsificadas. Em fevereiro, um depósito clandestino operando com entregas por aplicativo foi descoberto na Grande Tijuca. A ação teve início após consumidores relatarem mal-estar ao ingerir cervejas adulteradas.


De acordo com Cristiane Foja, presidente-executiva da Associação Brasileira de Bebidas (Abrabe), a cerveja é hoje o produto alcoólico mais falsificado no país, mas vinhos, espumantes e destilados também são alvos. Ela ressalta a gravidade do problema: — “Além do prejuízo econômico, o crime organizado não tem ética: já encontramos metanol e solventes industriais em bebidas falsificadas. Esses produtos podem resultar em intoxicações graves e mortes.”


Falsificações alimentam o crime organizado


Foja acrescenta que investigações apontam vínculos entre o tráfico de bebidas falsificadas e organizações criminosas como o Primeiro Comando da Capital (PCC), revelando que esse mercado paralelo pode financiar atividades ainda mais perigosas.


Como forma de combater o problema, a Abrabe recomenda que, ao descartar garrafas de vidro, o consumidor as descaracterize — rasgando rótulos e danificando tampas — para dificultar a reutilização pelos criminosos.


Mobilização oficial


O secretário estadual de Defesa do Consumidor, Gutemberg Fonseca, reforça a necessidade de denúncias. O canal Fala Consumidor (https://www.rj.gov.br/sedconsumidor/) está disponível para receber informações sobre suspeitas de produtos irregulares.

“A secretaria está atenta e vem capacitando agentes públicos para aprimorar a identificação de produtos ilegais e assegurar a proteção da população”, afirmou Fonseca.



Recentemente, um workshop reuniu 140 agentes para treinamento específico nesse combate.


Em meio à sofisticação das fraudes, a recomendação é clara: o consumidor deve redobrar a atenção, desconfiar de preços muito abaixo do mercado e, sempre que possível, utilizar ferramentas de verificação de autenticidade.


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